Wednesday, November 14, 2007

Vermes!

Pela terceira vez nesta semana, levantei por volta de 3 horas da manhã e não consegui mais dormir. Maldita insônia, malditos pensamentos, malditos acontecimentos que geram os pensamentos.
Fui até o banheiro, lavei o rosto e ao levantar a cabeça, deparei-me com uma imagem no espelho. Um homem por volta de seus 30 anos, com o cabelo mal cortado, barba mal feita ou melhor dizendo, não feita, olheiras e cansaço, muito cansaço. Eu...cansado!
Tentei por alguns instantes reconhecer os traços daquele homem que eu fui outrora, um olhar, um sorriso ou um sinal qualquer. Sim! Eu ainda me lembro, não faz muito tempo. Eu acreditava realmente nas pessoas, no mundo, nos projetos, em mim mesmo. Todas aquelas teorias complexas que tentavam explicar o porque agimos do modo X ou Y, resultaram apenas em uma conclusão para mim. Vermes!
Procurei, procurei...mas não encontrei nada neste sujeito que vejo no espelho. Resolvi fazer um café.
Enquanto preparava o café, percebi que já havia muito tempo que ninguém visitava esta casa, e que a muito tempo o telefone não tocava. O café ficou pronto. Sentei-me na velha poltrona vinho que sempre rangia quando eu me movimentava, dei um gole no café...forte, e encarei o telefone. Tomei coragem e disquei....
O telefone chamou uma, duas, três vezes e ela atendeu.
Desliguei!
Dei outra golada na caneca de café, dei umas voltas pela sala e pensei: "Será que nunca mais conseguirei ter contato com outros iguais a mim?". Liguei novamente.
O telefone chamou e ela atendeu com uma voz sonolenta.
-Alô...Alô quem está falando?
- Vermes!
Desliguei.
Cada vez mais a situação se tornava insustentável, ao mesmo tempo em que se tornava incompreensível para mim. Os vermes estavam por todos os cantos, todos os lados.
Sim, eu já amei! Todos os outros idiotas do departamento em que eu trabalhava, diziam que o amor era a cura. E quando vieram minha primeiras crises de insônia, aliadas aos primeiros remédios e por sua vez aos primeiros vícios e as primeiras internações, todos...sem exceção nenhuma, disseram que eu deveria amar mais. Mas entre amar e ter uma arma apontada para a cabeça, sempre preferi a segunda opção.
Aqui estou eu agora, no segundo andar de um edifício qualquer, em um apartamento apertado, numa sala suja, andando de um lado pro outro. O que há de romântico nisso?
Terminei a caneca de café.
Eram 3 horas da manhã, a cidade inteira dormia, menos eu que estou aqui andando de um lado para o outro, pensando, pensando, pensando...maldita filosofia!
O que será que ela está fazendo? E aquele beijo? Porque eu tive que ver aquele beijo?
Percebi que realmente há um descompasso entre o que pensamos e o que fazemos. Ela havia me julgado, havia dito que eu não podia tratar desta forma as pessoas que eu amo e que eu devia mudar. Mas no fundo foi ela quem mudou, era ela que não acreditava no que dizia.
Enquanto isso, eu continuo aqui desviando de balas dia após dia, não mudei sou o mesmo verme de sempre!
Mas a moral da máscara é o que impera. É a escolha mais fácil, é a que todos fazem. Mas naquele dia, a máscara caiu. E eu que não acredito em Deus, não acredito nos astros, cai junto com a máscara quando perdi a humanidade.
Mas tudo bem, ninguém precisa se preocupar com isso. Afinal de contas, não passamos de vermes!

6 comments:

Anonymous said...

obrigado pela visita. Faz tempo que não falamos sobre os textos... tb, fazia tempo que não via nada de novo por aqui!

É cara, continua ótimo, parabéns!
T.

Luísa B. said...

Divórcio da humanidade!

Marcelo Fonseca said...

Parabens bicho. animalesco como sempre, e isso faz o nivel de autocobrança subir mais e mais. Que esse acabe logo, ando me sentindo um pacote de lixo esperando o caminhao com caçamba passar, mas a gente toma jeito uma hora,

valeu pela visita, mas sobretudo pela atualização.

abraço.

http://elcaramelo.blogspot.com/ said...

Foda!

Anonymous said...

Acreditar em gente. Depender de gente. Ter que contar com gente... Por isso prefiro registrar o concréto.

Mas, quando estava acordado às 03:00Hs da manhã, certamente não estava só nessa insônia.

Mano, claro que tô dentro desse projéto da revista. Com todo orgulho.

Se estiver morando no mesmo lugar, colo lá no domingo pra trocarmos uma idéia e claro, andar de skate.

Monstre Charmant said...

Quando conto uma história parecida ou apresento sintomas de paranóia, pertubação, hostilidade a pessoa do meu lado geralmente me recomenda terapia.. mas no seu caso eu aconselharia um vermífugo.

Abraço.