Saturday, September 23, 2006

Pensar sobre isso é muito díficil. Tento racionalizar, achar um respiro pra esse mar de confusões, mas nada me vem na cabeça. Preciso dormir mais, estudar mais, amar mais e me apaixonar menos.
O engraçado é que as pessoas sempre confundem o ser romântico com o ser passional, não conseguem distinguir aqueles que vivem a vida na carne, com as veias abertas e o coração pulsante, daqueles que projetam Tristão e Isolda, Romeu e Julieta, entre outros personagens do imaginário romântico ocidental. A insurreição sempre começa na carne!
Olho pra essa tela do computador, a folha em branco, pensar sobre isso é difícil. Escrever então, é uma tarefa árdua. Porque a maioria das pessoas se submete a este modo de viver que já está posto, sem questioná-lo? Porque não se apaixonam pela vida, pelas pessoas, pelas conveniências de se relacionar com o outro?
Sim, relações humanas são relações de pura conveniência.
Passando por cima do significado corriqueiro da palavra "conveniência" que amedronta a maioria das pessoas, veremos que o que procuramos no outro, é sempre aquilo que não temos em nós ou estamos sempre tentando satisfazer um desejo, e precisamos do outro pois não podemos fazer isso sozinhos. Para alguns esse desejo pode ser o casamento, para outros apenas uma boa trepada, mas continuam sendo conveniências tanto um quanto o outro.

São 03:55 da madrugada de um sábado e eu estou aqui, tentando imaginar quais desejos as pessoas estão tentando satisfazer lá fora, nessa caça incessante por prazer, satisfação, aprovação, felicidade, e como recebem um punhado de mentiras em troca sem nem mesmo perceber, ou percebem e se fazem de idiotas. Eu poucas vezes troquei o prazer dos outros, pelas minhas mentiras. Talvez seja por isso que eu esteja me fodendo tanto agora.
Acabo de dar uma olhada em um texto do Renarde Freire Nobre, que fala sobre a tragédia cultural e a racionalidade no pensamento de Max Weber. Sim! Max Weber, aquele que a maioria dos alunos pseudo-marxistas de ciências socias chamam de reacionário.
Um techo desse texto me chamou muita atenção:

"(...) A parti de então pode se melhor compreender como a tragicidade da vida consiste em os homens terem que fazer escolhas e lidarem com as suas consequências, e de como tais opções excluem outras e os colocam em conflito ou luta consigo mesmos ou com os demais".

Nessa minha mistura quase esquizofrênica de idéias, tento entender qual a relação das nossas escolhas, que são sempre tão difíceis de serem feitas, e as conveniências que permeiam nossas relações. Não achei nenhuma resposta para isso. Meu cão Vader, fiel amigo sempre sentado ao meu lado nas madrugadas inquietantes, me olha como se eu estivesse louco, afinal de contas, até ele sabe que é muito difícil pensar sobre tudo isso.
04:09 da madrugada de sábado, é melhor eu tentar dormir.

Monday, September 11, 2006

Coração, Pedra e Gelo

Seus olhos cegam os meus
Que não brilham mais
Sem os teus em mim
Leva meu coração
Ele vai pesar tanto
Que você nem vai
Conseguir tirar
Ele do lugar
Se cair no chão

Quando a gente se encontrar
Se os teus olhos meus
Disfarçarem bem
Então leva meu coração
Não vou mais usar
Em nenhuma canção

Quando a gente se encontrar
Se os teus olhos meus
Disfarçarem bem
Então leva
Meu coração pedra e gelo

Monday, September 04, 2006

Oficina irritada. (Carlos Drummond de Andrade)

Eu quero compor um soneto duro
como poeta algum ousara escrever.
Eu quero pintar um soneto escuro,
seco, abafado, difícil de ler.

Quero que meu soneto, no futuro,
não desperte em ninguém nenhum prazer.
E que, no seu maligno ar imaturo,
ao mesmo tempo saiba ser, não ser.

Esse meu verbo antipático e impuro
há de pungir, há de fazer sofrer,
tendão de Vênus sob o pedicuro.

Ninguém o lembrará: tiro no muro,
cão mijando no caos, enquanto Arcturo,
claro enigma, se deixa surpreender.

Casamento do Céu e do Inferno
No azul do céu metileno
a lua irônica
diurética
é uma gravura de sala de jantar.

Anjos da guarda em expedição noturna
velam sonos púberes
espantando mosquitos
de cortinados e grinaldas.

Pela escada em espiral
diz-que tem virgens tresmalhadas,
incorporadas à via-láctea,
vaga-lumeando...

Por uma frincha
o diabo espreita com o olho torto.