Thursday, December 14, 2006

A Mentira. A chuva de Sapos.

Os olhos cruzaram-se uma, duas, três, incontáveis vezes. Tatearam-se no espaço.
Nada muito profundo, superficialidade é a palavra. Os gestos, os cumprimentos, os toques, os medos. Uma sutileza fria, cercada de cinísmo.
Caminhou em minha direção, vestida com um véu que me impossibilitava enxergá-la na totalidade. Dizia: bem vindo ao baile de máscaras, eu serei a sua mestre de cerimônia.
E eu fingindo durante todo este tempo aceitar. Peguei uma coca-cola, dei uma longa golada e esperei pela chuva de sapos. Em vão! O máximo que recebi foi uma tentativa de ser agrádavel.
Era o último dia, talvez eu quisesse lá no fundo, acreditar que seria o dia D. Talvez eu tivesse criado uma atmosféra individual na qual eu dançava sozinho, mas insistentemente esperava por alguém. A chuva de sapos lembra?
A monotônia me consome, a rotina me consome, todos os dias tenho que escolher entre o morrer de tédio e o morrer de fome, como disse Raoul Vaneigem.
Seduzindo tudo e todos, gesticulando, sorrindo, bebendo. E eu lá, esperando o que vem depois, como um bom espectador. A passividade, o perder as rédias da própria vida, a tragédia das escolhas. Não faz sentido!
Eu observava todos os tipos ao redor, pseudo-intelectuais remanescentes de uma época da qual não vivenciaram, com aquele ar de pedantismo característico deles. Enquanto alguém soltava uma baforada de fumaça de cigarro e comentava sobre um filme iraniano qualquer, os outros discutiam se Miles Davis foi melhor na fase Bebop ou na fase Fusion, outros apenas bebiam em silêncio, e eu esperava por um sinal. A noite inteira esperando um sinal.
Eis que ela se virá pra mim e faz uma pergunta, que na verdade não signicava nada e ela já sabia a resposta. Gentilmente e sarcásticamente eu respondo. Ela faz uma piada. E assim ficamos, durante muito tempo...
Um beijo, tome cuidado, nos vemos por aí. Mentira. E nada de chuva de sapos!!!