Sunday, July 09, 2006

Carrego do meu lado direito a dor.
Do meu lado esquerdo carrego todo o peso do meu mundo.
Qual a distância que separa, aqueles que vencem daqueles que perdem?
Carrego as asas dos anjos e tento transpor essa distância.
Como eu poderia ter feito tudo certo?
Na verdade nada fiz.
Repito as mesmas palavras, desejo as constelações.
Mas só carrego os buracos negros em meu peito.
Procurando por algum sentido?
Não há sentido.
Eu que já não sou mais eu, não procuro mais um sentido.
Apenas carrego o sono tão desejado. Que seja eterno!

Wednesday, July 05, 2006

Comentário sobre a entrevista de Theodor W. Adorno.
Por: Marci Kühn

Não faz muito tempo Marx matou a filosofia, dizendo que estava na hora de colocá-la em prática e parar de falar e pensar. Havia chegado o limite. Há muito tempo chegou o limite, as bibliotecas estão cheias de teorias bonitas, e as nossas mentes repletas de críticas ácidas, no entanto nosso corpo continua enferrujado de ócio.
Pergunto-me qual a importância do falar em contraposição ao agir. O viés da filosofia no seu começo foi a compreensão do mundo, saber de onde viemos, para onde vamos, o que esta ao nosso redor, até o momento em que se descobriu que o que estava ao nosso redor eram homens jugando homens e todo um sistema maluco que temos de viver. A compreensão continuou a compreender todos os limiares e as intempéries do nosso sistema, do nosso mundo e ainda sim não colocamos em prática o óbvio. Aprendemos e falamos, não agimos.
Adorno nos mostrou a importância do agir. Com certeza com o afastamento das suas não-ações.
“Mas nunca eu disse algo que se dirigisse diretamente a ações práticas”.
Como podemos aplicar teorias para que as coisas sejam diferentes se nem quem as concebeu consegue lutar por esses ideais?
O agir tem tanta importância quanto o pensar, quanto o falar. É necessário exemplificar o que dizemos, mostrar que as teorias realmente funcionam e ainda, mais do que falar, o agir tem um significado muito maior do que prevemos. Dar exemplos. Se quisermos que as pessoas leiam mais, temos de ler então, comentar e conversar sobre os livros. Fazer nós mesmos para que se veja quão possível é o que dizemos.
Neste quesito o nosso querido Adorno falhou. Falhou por não demonstrar acreditar no que ele mesmo disse, por provar mais uma vez que tudo que se luta contra é mais forte.
Nega estar em uma torre de marfim intelectual que está. Quer que possamos entender que a teoria vem antes da prática. O pensamento é importante, é ele quem consegue nos fazer imaginar as conseqüências das ações e o sacrifício que se fará para alcançar algum objetivo. Mas ainda me pergunto, quando será a hora certa para que a prática seja mera reprodução da teoria? Aliás, algum dia isso será possível? Ultrapassar as incertezas, os sentidos, as vontades, as morais, a rotina, a teoria não poderá nunca fazer isso, só se pode esperar e assistir os erros que nossa mente fez e o que os outros compreenderam do que pensamos, assistir uma nova teoria nascer.
Essa relação de poder teórico nos corrompe tanto quanto a relação de poder prático que temos dos governos e pequenos poderes. Confiamos tanto em professores, teóricos, pesquisadores e cientistas que simplesmente seguimos coisas que nem eles mesmos pensariam em confiar. Os jovens, como exemplifica a entrevista com o Adorno, são os pequenos ratinhos de laboratório dos cientistas renomados, não pensamos nossas teorias, não pensamos nunca, aliás, seguimos regras de outros como loucos, nos jogamos dos abismos que nos mandam nos jogar e as poucas vezes que paramos para pensar cobramos mero apoio.
Somos cegos. Lemos e ainda sim somos cegos.
Tirando o fato da estupidez da jovialidade nos afetar, Adorno clama a reflexão como mudança do mundo. Pergunto-me, não seria reflexão uma fase para a mudança de consciência e doravante de ação? E se a sua teoria não foi feita para prática então não podemos agir esta reflexão, não podemos mudar o hábito de ver diferente, de agir diferente.
A mera reflexão, e o poder que demos para a razão, é nada mais do que um vazio intelectual.
Vamos continuar cegos e convencidos de que saber muda tudo?
“Essa pergunta me ultrapassa”. Como disse Theodor Adorno.