Tuesday, October 24, 2006

Uma conversa oca!

- Você está apaixonada?
- Isso lá é coisa que se pergunte?
- Qual o problema?
- Sei lá...este tipo de coisa não se diz, se sente.
- E o que você sente?
- Lá vem você de novo com essa história. É sempre assim...
- Por que falar sobre isso te incomoda tanto?
- Você é sempre tão cheio de perguntas. Você questiona demais!
- Talvez questionar seja o que te incomoda.
- Toda essa situação me incomoda.
- Mas também te deixa feliz, não?
- As vezes.
- Infelizmente não podemos mensurar a felicidade. Mas podemos compara-lá com algum sentimento inverso, incomodo. Qual deles é maior?
- Não sei, juro que não sei te responder isso.
- É difícil tomar decisões não é mesmo?
- Sim, é muito difícil, mas é necessário. Não podemos viver a vida inteira transitando pelo caminho do meio.
- E você decidiu não se apaixonar?
- Já tive outras desilusões amorosas e...
- Mas isso não tem nada a ver com amor! Estou falando de paixão, de corpo, de pele, de vida pulsante. E não amor!
- Pode ser.
- Amor é contrato, é compromisso. Paixão é esquizofrênia, é o corpo e a mente indo à lugares nos quais nós nunca teríamos coragem de ir sozinhos. Talvez seja isso que falte na vida das pessoas lá fora.

Ela se levanta nua, acende um cigarro e olha pela janela. A cidade está tranquila.

- Mas paixão dói, geralmente dói muito!
- Para mim a dor é sinônimo de aprendizado. Ostento com orgulho, cada cicatriz do meu corpo e da minha alma.
- Mas neste momento não é o que eu quero. Eu quero proteção!
- Quer ser protegida de quem, do que?
- Não sei, não sei...só me sinto fraca demais pra me apaixonar!
- Então você não está apaixonada?
- Não foi o que eu disse.
- Mas foi o que eu entendi.
- Como você é insuportável!
- Você me odeia então?
- Sim as vezes eu te odeio. Olho pra você e quero voar no seu pescoço, sufocá-lo até a morte.
- Nossa! isso é intenso. Prefiro que seja assim.
- É...pode ser!
- Tem tantas coisas que eu gostaria de te dizer, mas eu não sei como.
- Que tipo de coisas?
- Não sei ao certo. O seu orgulho me impede, me castra e te castra.
- O meu orgulho? (Ela dá uma leve risada). Agora a culpa é minha?
- Não há culpados nem vítimas nessa história.
- O que há então? Será que realmente há uma história?
- Sim, a história somos nós quem fazemos, e sempre fazemos. Consciente ou inconscientemente.
- Nossa história não tem muita substância então.
- As minhas sempre tem. Mas eu não posso ser responsável pelas suas.

Ela terminou o cigarro deitou novamente na cama e deu lhe um beijo longo e ardente.

- Me deixa dormir agora?
- Sim, mas só mais uma pergunta.
- O que?
- Quando é que você vai olhar no espelho, no fundo dos seus próprios olhos e dizer sim para si mesma?

Ela fingiu adormecer.