Tuesday, November 22, 2005

"O que é a verdade, portanto? Um batalhão móvel de metáforas, metonímias antropomorfismos, enfim, uma soma de relações humanas, que foram enfatizadas poética e retóricamente, transportadas, enfeitadas, e que, após longo uso, parecem a um povo sólidas, canônicas e obrigatórias: as verdades são ilusões, das quais se esqueceu que o são, metáforas que se tornaram gastas e sem força sensível, moedas que perderam sua efígie e agora entram em consideração como metal, não mais como moedas"
Friedrich Nietzsche - Sobre Verdade e Mentira no Sentido Extra-Moral.

Wednesday, November 16, 2005

- Pouco me importa.
- Pouco te importa o que?
- Não sei, mas pouco me importa.

Thursday, November 10, 2005


Pois É - Los Hermanos
Composição: Marcelo Camelo

Pois é, não deu
Deixa assim como está sereno
Pois é de Deus
Tudo aquilo que não se pode ver
E ao amanhã a gente não diz
E ao coração que teima em bater

"Avisa que é de se entregar o viver "

Pois é, até
Onde o destino não previu
Sem mas, atrás vou até onde eu conseguir
Deixa o amanhã e a gente sorri
Que o coração já quer descansar
Clareia minha vida, amor, no olhar

Friday, November 04, 2005


Manifesto DESORKUTE-SE!
Por: Viny Blisset

Um movimento surgido no interior da rede (desterritorializada)de amigos vem ganhando cada vez mais adeptos. O suicídio ritual do Orkut é expressão de uma recusa, mais uma. Leia na íntegra o manifesto DESORKUTE-SE!

ADVERTÊNCIA INTRODUTÓRIA:
Não se trata de recusa tecnológica. Trata-se de recusa aos mecanismos de absorção e controle diretamente vinculados à lógica do espetáculo integrado moderno. Sua esfera de ação encontra espaço em nossas vidas, sendo portanto essencial desconstruir o simulacro filosófico e estético reinante. No espaço desterritorializado, a justaposição descontextualizada de seus elementos não é possível, toda subversão é bem vinda: absorvida e reproduzida. Nesse sentido, trata-se de recusa à sobrevivência. Esse processo encontra nas mídias de entretenimento e informação, redes de comunicação e encontro virtuais, sua realização objetiva. Acreditarmos na ilusão da atividade humana nesse contexto é cair na magistral mentira generalizada da humanidade. Se nada é verdadeiro (enquanto realização e experiência), o que mais esperamos para permitirmos a nós mesmos simplesmente tudo? O indivíduo fragmentado se desobjetiva realizando a totalidade da vida.
TERRITÓRIO DE ILUSÕES:
Mais do que nunca vivemos uma representação. O processo de inversão da vida agora objetiva-se em monitores integrados de absorção castrativa, páginas de Orkut.
A dimensão territorial de nossas vidas já não mais nos faz sentido. Não reconhecemos outra objetividade que não essa à qual aparentamos uma existência realizada: tanto individual quanto coletiva.
Não passamos de simulacros de si próprios, nos afastamos cada vez mais do conjunto de elementos que constituem nossas vidas. Nos afastamos das dimensões espaciais que constituem o espaço do cotidiano, onde de fato nos realizamos: não mais reconhecemos a paisagem que nos envolve, nem o lugar em que vivemos.
O Orkut se transformou em elemento de fetichização dos indivíduos inseridos em sua lógica, a felicidade agora se conjuga com uma popularidade aparente: consideram-se amigas pessoas que nunca se encontraram. Nessa lógica, o encontro com o Outro se dá agora através do distanciamento e da representação. Desterritorializados, os indivíduos se desintegram, e caminham para a objetivação de sua transformação em pontos de fluxo informacionais e imagéticos, mediados pela relação social entre indivíduos separados ideologicamente e materialmente.
As redes de indivíduos separados e comunidades ausentes de realização entre os membros que a constituem (paradoxo maior do Orkut), se ampliam à medida que um maior dispêndio de tempo é dedicado pelo indivíduo inserido nessa lógica. Para conquistar a falsa-felicidade, é preciso engajamento: espacial e temporal.
Espacial porque é preciso abdicar do território material para engendrar as relações no espaço desterritorializado da rede informacional e imagética.
Temporal porque nega a vida, estabelece uma nova relação com aquilo que é falso e se configura como verdadeiro. A esfera do cotidiano se transmuta em uma nova dimensão, a dimensão espaço-temporal da não realização, o cotidiano-rede. Implica novas formas de percepção da realidade, percepção essa reduzida à mecanismos visuais e motores identificados com a lógica tecnológica e informacional da rede.
O cotidiano é a esfera real de ação da subjetividade humana, é o espaço onde a dimensão da vida se objetiva, se torna real. No cotidiano-rede, os indivíduos delegam-se do poder de domínio e apropriação do espaço, isso porque é o espaço desterritorializado que domina e se apropria da subjetividade humana.
A comunidade, enquanto corpo social não faz sentido uma vez que o lugar habitado pelos indivíduos que constituem esse corpo não existe enquanto materialidade. Comunidades virtuais há muito existem desvinculadas de territórios, processo que inverte progressivamente as relações humanas e suas disposições espaciais uma vez que a representação, distanciamento, separação e não-realização se convertem em objetividade unilateral. Estabelece-se um vínculo que une os complexos de não-realização e realização virtual; separação e encontro virtual; representação e realidade aparente.
O homem espectador revela-se protagonista de sua dissolução subjetiva, e quanto maior a falsidade de suas realizações, maior sua satisfação. O verdadeiro transmuta-se em momentos do falso. Opta-se pela ilusão: aurora de imagens e informações.
O espaço de encontro entre amigos não existe uma vez que inexiste encontro com o Outro, o que se realiza de fato é uma comunicação superficial entre indivíduos mediados por dados e fluxos imagéticos e informacionais.
O usuário do Orkut vive uma ilusão. A máquina é sua expressão efetivamente real, e o Orkut sua manifestação geral.
Para Lefebvre, é no cotidiano que a existência social e do ser humano formula em sentido geral, os problemas de sua reprodução. O cotidiano é dessa forma, o espaço do novo e do possível.
Enquanto espaço desterritorializado e do tempo não-vivido, o cotidiano-rede conjuga a falsa existência do ser separado com a esfera de não realização informacional e imagética da rede. Confluem em seu universo um conjunto de simulacros e representações que são a expressão mais evidente da sociedade do espetáculo.
A ruptura situacionista do cotidiano só é possível com a negação total da sociedade do espetáculo, recusa essa que encontrava no jogo sua expressão revolucionária. No cotidiano-rede, o jogo não é possível uma vez que não há nada com que se jogar se não com sua própria dissolução enquanto sujeito. A ruptura deve-se dar através do suicídio.
Desterritorializados, nos reterritorializamos, e voltamos assim a sermos fluxos de desejo no devir do mundo, não mais fluxos informacionais e imagéticos no devir falso da rede. É com o suicídio ritual do Orkut que damos um passo a frente na construção da história, uma história que jamais foi vivida pela humanidade, e que caminha cada vez mais para a não realização de nossas vidas.
A net é a totalidade das transferências de informações e de dados na rede. Algumas dessas transferências são privilégio e exclusividade de várias elites, conferindo-lhes um aspecto hierárquico. Outras transações são abertas a todos, e dessa forma a net possui também um aspecto horizontal e não-hieráquico. De maneira geral, a telefonia, o sistema postal, os bancos de dados públicos entre outros são acessíveis a todos. Com isso, de dentro da net começou a emergir um tipo de contra-net: a web.
O Orkut é um mecanismo de controle da web. Quanto tempo era gasto com pesquisas, plágios e pirataria cultural antes do surgimento do messenger e das páginas de encontro virtuais? A net deve existir e co-existir com esses mecanismos de controle, a escolha de sua submissão e perda de autonomia na rede deve ficar a cargo de nós mesmos. Devemos fazer emergir da crítica a totalidade e suas manifestações gerais, não aspectos e mecanismos específicos que apenas decorrem dessa lógica. Aquém de neo-luddismos, unabombers e durdens, não acreditamos na destruição material dos objetos. As mercadorias agentes da separação só serão efetivamente destruídas em sua totalidade, se compreendermos a aura de sua reificação. Dessa tomada de consciência, rituais próximos ao Potlatch primitivo poderão novamente ser realizados; assim como o foi no bairro negro de Watts em Los Angeles (1965). A destruição material de mercadorias respeitando à ilógica insurrecional e subjetiva das massas. Objetivamente: o suicídio ritual do Orkut se dá com a simples realização de um logoff, apenas isso. A título de indicativos do processo de recusa que se inicia, uma não-comunidade ou anti-comunidade será formada apenas por fantasmas que um dia navegaram por aquele espaço. E estes serão signos da realização, nômades agora reterritorializados, engendrando uma relação verdadeira e realizada com a vida, e com sua esfera de ação, o cotidiano.
Enquanto o panoptismo da vigilância, do controle e da correção vigorar sem enfrentamento e questionamento em nossa sociedade, homens-máquina vagarão à noite em meio às ruas vazias, revelando cartografias afetivas e novas formas de consciência do território. O véu da separação é então retirado, e a emergência de situações e zonas autônomas se faz possível. Conscientes da inversão, exigimos e realizamos o impossível.

Viny Blisset, outubro de 2005.
Além do Copyleft: plagie, copie, não cite a fonte. Diga que o autor desse manifesto é você, ou alguém que de fato não existe ou apenas você conhece.