Monday, April 10, 2006


Desde que sou capaz de pensar, que me faz feliz a canção - entre a montanha e o vale profundo - a história de duas lebres que se empanturram de grama, foram abatidas pelo caçador, e ao constatarem que ainda estavam vivas, saíram correndo. Porém, só muito mais tarde eu compreendi a lição aí contida: a razão só pode resistir no desespero e no excesso; é preciso o absurdo para não se sucumbir à loucura objetiva. Deve-se fazer como as duas lebres. Quando o tiro vem, cair fingindo de morto, juntar todas as suas forças e refletir, e, se ainda se tiver fôlego, dar o fora. A capacidade para o medo e a capacidade para a felicidade são o mesmo: a abertura ilimitada, que chega à renúncia de si, para a experiência, na qual o que sucumbe se reencontra. O que seria a felicidade que não se medisse pela incomensurável tristeza com o que existe ? Pois o curso do mundo está transtornado. Quem por precaução a ele se adapta, tornar-se por isso mesmo um participante da loucura, enquanto só o excêntrico conseguiria aguentar firme e oferecer resistência a absurdidade. Só ele seria capaz de refletir sobre o ilusório do desastre, a irrealidade do desespero, e de se conscientizar não só de que ele ainda vive, mas de que ainda há vida.

7 comments:

Anonymous said...

bom texto para quem, como as lebres, já se entediava d se fazer de morta. então, pensaremos no absurdo. absurdo pra vida, nao no absurdo da vida... bjus coloridos para meu amigo absurdo

Anonymous said...

É, belo texto literário.
Muito bom mesmo, eu até omentaria, mas seria inutil, visto que vc já disse tudo..
beijos.

Anonymous said...

Vc já leu o conto: O abutre do Kafka, vc precisa ler, vou procurar, eu tenho ele em algum lugar! Finjir do morto, desespero ... similares angustiantes de vidas diferentes e com muito em comum!

Anonymous said...

O velho e bom Adornão hehehe!!

Anonymous said...

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Anonymous said...

Huberto Rohden definitivamente diria ser um cristão o autor deste parágrafo. eu só comento que a renúncia do ego, ergo percepção humana, limitada, é a única forma de transcender qualquer controle externo a nós.

Anonymous said...

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